terça-feira, 24 de abril de 2012
A ARTE DE VIVER BEM
SÓCRATES E A ARTE DE VIVER
Um guia para filosofia no cotidiano
por J. C. Ismael, 2004, Editora Agora
Sócrates (469-399 a. C.), um dos maiores filósofos da humanidade,
ao examinar o que significa tornar-se humano, tinha por objetivo
não mais a ciência ou a natureza, mas o homem. Ele ensinou
que pecar é ignorar, e que a purificação da alma passa
necessariamente pelo auto conhecimento do homem.
Ele introduziu o homem interior na filosofia.
Conforme Sócrates o único meio de realizar a mais importante
missão do homem: o conhecimento de si mesmo.
Ao identificar a virtude com o conhecimento, Sócrates
formularia a sua mais polemica reflexão, a de que ninguém erra
-ou faz mal – voluntária ou conscientemente.
Explica-se: não sendo nenhuma irracionalidade deliberada,
se alguém pratica o mal, isso se deve á ignorância dos
valores éticos. Mas o homem deve considerar que a virtude
(sem a qual a ignorância e o mal triunfam) dificilmente pode
ser ensinada por estar latente na alma; portanto, só é
alcançável pelo exame rigoroso que cada pessoa deve fazer
de si mesma, condição básica para sua existência ser
considerada digna.
O método socrático de argumentação – ou se preferir, de ensino – significa a tentar extrair das pessoas as respostas que elas (supostamente) não tem, fazendo-as encarar a própria ignorância,
pode levá-las ao paradoxo socrático de, conformando-se com ela,
se sentirem sábias. Por isso é que, ao declarar-se ignorante
– só sei que nada sei é o seu mote predileto.
Nada em excesso e Conhece-te a ti mesmo são conceitos básicos
da filosofia do Sócrates. O mais sábio é sábio justamente por ter consciência da própria ignorância.
Em seguida algumas citações sobre Dez lições do socratismo;
01- Cuide da alma
A alma, imortal, indestrutível e sempre renascida, razão
moral, espírito pensante e sede da consciência, é a
manifestação do divino no homem. Preocupar-se com a
alma sem descuidar do corpo, mantendo-o saudável e ágil,
é afastá-la do perigo dos prazeres mundanos, fáceis e
enfermos que embotam sentidos. O cuidado da alma só
é perfeito com o auto conhecimento. O conhecimento purifica
a alma, liberta-a das ilusões fáceis, do julgamento precipitado
e passional do próximo.
02- Tome conta da sua vida
Tomar conta da própria vida é estar em harmonia com
a vontade divina, que concedeu a cada pessoa a noção
de deveres éticos perante si e perante a sociedade em
que vive. A arte de viver passa necessariamente pela
incansável missão de ver a vida como uma dádiva preciosa
demais para ser descuidada.
03- A liturgia da amizade
O bom amigo é solidário na dor, mas principalmente cúmplice entusiasmado na alegria. Nenhuma outra forma de dialogo
é mais elevada como a que ocorre entre amigos, mas só pode
ser amigo verdadeiro quem se despe de tudo que superficial
e passageiro nas relações humanas. O individuo isolado,
sem amigos, indiferente ás relações humanas, pouco ou
nada contribui para o aperfeiçoamento da sociedade
em que vive.
04- A natureza do amor
O amor é a experiência que mais aproxima o homem
do divino. Compreender a natureza do amor espiritual livra
os amantes de desgostos, levando-os assim a usufruí-lo
em toda a alegria e plenitude. Ao desejar o amor do outro,
deve conhecer-se profundamente e não pretender privá-lo
de nada que o impeça de ser ele mesmo. Amor também é
renuncia, e ela deve existir quando ocorre as despersonalização
dos amantes, quase sempre resultado da busca obsessiva
pelo prazer físico, em vez do espiritual.
Para que a relação amorosa não se transforme em fonte
de frustrações e ódio, os amantes precisam tomar diversas
cautelas – e é aí que entra o exercício da razão, dominando o
jugo da paixão. Entre elas, a principal é afastar a inveja quando
um deles está numa posição intelectual, social ou financeira
mais alta, pois a inveja é o veneno que destrói os mais sólidos relacionamentos. Alguma coisa misteriosa lateja neles, sempre
voltada a destruí-los – e é contra ela que os apaixonados
precisam lutar incansavelmente. É ela que leva o amante a
sentir alegria com a desgraça de quem ama, e igual tristeza com
suas conquistas: um sentimento inexplicável que, nascido
num lugar sombrio da alma, está além da inveja.
05- O que é ser livre
A liberdade implica o domínio das paixões, sempre à
espreita para desvirtuar a conduta moral que brota no
interior do individuo. O prazer sensual e a intemperança
são outros inimigos da liberdade.
06- Quando transgredir é salvar-se
Nenhuma lei deve ser obedecida se for injusta, nenhuma
regra deve ser obedecida se desprezar a virtude, nenhum
regime político deve ser obedecido se for tirânico e assassino.
O transgressor não é um inimigo da ordem social, mas
amigo da sabedoria e da verdade. Portanto, aquele que
transgride o que impede de viver bem está no caminho
correto da salvação de si mesmo.
07- O individuo e o cidadão
Na mesma pessoa, cidadão e individuo podem ter uma
convivência pacifica e enriquecedora – desde que o
individuo desempenhe criticamente o papel de cidadão,
ou seja, ultrapasse-o ao não se sujeitar às expectativas
da comunidade, e principalmente ao se preservar de tudo
que possa desviá-lo do caminho das virtudes de autocontrole,
da coragem, da intuição e da sabedoria.
08- Não se leve a sério
Viver com seriedade e ao mesmo tempo não se levar a
sério são conceitos complementares. Viver com seriedade
significa ter caráter firme e incorruptível, ter opinião própria,
amparada por argumentos racionais, e um profundo sentimento
de vergonha que impeça a pratica de atos contrários à
dignidade humana. É fácil reconhecer quem se leva a sério
superior aos demais: é incapaz de um gesto de humildade,
é arrogante e presunçoso não admite os seus erros.
09- Tenha somente o necessário
O homem que se conhece verdadeiramente mediante o
exame e a pratica da virtude está livre da tentação de
possuir bens materiais além dos estritamente necessários
para viver. Se não, quanto mais tem, mais sente vontade
de possuir, numa ânsia ilimitada de satisfazer-se sem o
conseguir.
10- Viva a arte de morrer
Só quem não dedicou a vida a ver na morte a libertação
da alma do corpo se atormenta com a sua chegada.
Quem durante a vida se dedicou a examiná-la a cada dia
vê na morte a suprema purificação: ela o separa sempre
do corpo, fonte de sentimentos impuros contra os quais
não mais precisará lutar, e tudo aquilo que o molestava.
Por isso é que somente depois da morte, livre do
entorpecimento do corpo, o homem atingirá o
verdadeiro conhecimento: é a alma que o guiará,
de forma pura,em direção ao discernimento da verdade.
Morrer exige aquela sabedoria que, brotando da
coragem, anula o terror de mergulhar no desconhecido
e de saber que com o fim dos infortúnios também se
extinguira a memória das coisas terrenas. Preparar-se
para a morte é o contrario da sua negação: é transformá-la
numa companhia, tendo-a sempre presente na vida diária.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário